quarta-feira, 12 de novembro de 2008

É pensando... adubo... que se aduba a vida.

No primeiro semestre do ano porrei minha motoca 125 na traseira de um Monza velho na Rodovia do Sol, enquanto ia de Cachoeiro para Vitória trabalhar. O cara resolveu parar o carro no meio da pista pra ver se dava pra entrar à esquerda. E até hoje não recebi, nem vou receber, pelos dois meses que fiquei na função que exercia na época.
Na moto a perda foi total, no meu ombro esquerdo, parcial. Uma tal de luxação acrômio-clavicular grau 3 dividiu a opinião de ortopedistas e, no disse-me-disse opera-não-opera fui encaminhado pra um cirurgião de ombro que tava bombando na cidade e operando todo mundo. É claro que não marquei a consulta com ele, preferi perguntar antes a opinião do meu velho ortopedista que, enquanto eu ainda era um ser mamante, me consertou uma tíbia rodada - um defeito de fábrica, por assim dizer, que passou pelo controle de qualidade. Diga-se de passagem, consertou sem cirurgia.
Usei uma tipóia, depois uma espécie de sutiã esquisitão, parei de usar tudo antes da hora e o ombro ficou bom, funcionalmente, e só com um calombinho de seqüela que é até simpático.
Agora há pouco tava lá treinando meu jiu jitsu na academia nova aqui em frente de casa e descobri que o professor faixa preta, conhecido de gente que tem Gracie no nome e coisa e tal... descobri que o cara é médico. Aliás, médico não: ortopedista. O ortopedista, exatamente o ortopedista especialista em ombro de quem eu fugi no início do ano. Comentei a história com ele, rimos um pouco, ele me contou uns casos de gente que fez como eu e não se deu tão bem: ficou com dor, instabilidade na articulação, et coetera. Eu pensei cá comigo: é o ombro esquerdo, não é o braço dominante, eu não sou trabalhador braçal... que mal iria me fazer uma seqüelinha pra escapar da faca?
Lembrei então que eu não sou braçal mais ou menos... Se hoje faço lá minhas necrópsias de gravata, jaleco branco e pranchetinha na mão, e tenho sempre um auxiliar que põe a mão no cadáver e me serve de mãos (ainda que alguns pareçam dois pés esquerdos), houve a época em que eu chafurdei em muita raça de cadáver pra aprender. E lembrando o quanto o corpo humano é trabalhoso para manusear quando não-cooperativo, me saí, enquanto me ensaboava no banho, com esta pérola: "É preciso muito preparo físico pra sair vivo de uma sala de necrópsia..."

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